Rede de Contra Informação

Notícias de comunidades em resistência

8 Março: Marcha Internacional Feminista

Estivemos nas manifestações 8M de Lisboa e de Braga.

MULHERES EM UNIÃO
FAZEM A REVOLUÇÃO!

https://archive.org/details/8m-braga-discursos-manifesto

Manifesto:

A violência doméstica, a violência sexual, a violência obstétrica, o assédio no espaço público e em contexto laboral, o sistema de justiça machista, a transfobia, o tráfico de meninas e mulheres, a negação dos direitos sexuais e reprodutivos, o racismo e a xenofobia, entre muitas outras formas de violência de género, assentam na estrutura básica da nossa sociedade.


As desigualdades laborais, a precariedade, a falta de apoio à
parentalidade, as frágeis condições de habitação, a pobreza e a desigual atribuição dos papéis de género são fenómenos que penalizam sobretudo as mulheres.


Na esfera privada, são as mulheres quem mais sofre de violência
doméstica, não tendo, muitas vezes, oportunidade para sair da relação,
por dependência económica. Além disso, as mulheres vítimas de violência acabam, muitas vezes, por não denunciar por medo do estigma ou por falta de confiança num sistema de justiça marcadamente machista que não responde aos seus problemas.
Exigimos o alargamento da rede de casas de abrigo, o investimento
na habitação social, bem como mais apoios — laborais, de saúde,
económicos e sociais — para as mulheres e crianças vítimas de
violência doméstica. Exigimos o fim das penas suspensas e da impunidade dos agressores e o uso mais frequente de medidas que imponham o seu afastamento e detenção.

Somos também quem mais sofre de violência sexual, nomeadamente de assédio, tanto em contexto laboral, como nas escolas, nas universidades, entre outros espaços públicos e privados.
Exigimos penas efetivas para os agressores de qualquer tipo de
violência, deixando de haver atenuantes desadequadas.
Exigimos a existência de gabinetes de apoio à denúncia do assédio
nas universidades e locais de trabalho e sanções para as empresas
que permitam o assédio moral e sexual.


Por reconhecermos que o patriarcado está internalizado na nossa
sociedade, Exigimos uma política de consciencialização pública para
o assédio, que torne socialmente claro que este coloca as meninas e
mulheres em perigo, mesmo quando se tratam de micro-agressões
aparentemente inofensivas e normalizadas, como o assobio ou o
comentário sobre o corpo, para que todas as pessoas se tornem
vigilantes e ativas na sua prevenção e censura social.

Saímos à rua porque vivemos, ainda hoje, num mundo profundamente
desigual, que desvaloriza a nossa força e a nossa dignidade. Somos nós, mulheres, que representamos a maioria dos vínculos laborais precários e a tempo parcial, a dupla jornada por que passamos para garantir o trabalho doméstico e os cuidados informais, aos filhos, filhas e outras pessoas dependentes.


Exigimos o fim do trabalho precário e salários iguais para trabalhos
iguais.
Exigimos o fim dos ataques aos direitos de parentalidade e o reforço
dos apoios sociais a famílias monoparentais e a mães desempregadas.
Exigimos o reconhecimento do valor social doméstico e dos
cuidados, a partilha de responsabilidade na sua prestação e mais
respostas públicas de socialização do trabalho doméstico para que
homens e mulheres beneficiem igualmente dos tempos de lazer e
descanso.

Somos as mais pobres e invisibilizadas, e ainda que sejamos uma minoria entre as pessoas em situação de sem-abrigo e/ou pessoas utilizadoras de substâncias ilícitas, nem aí estamos livres de violência machista.


Exigimos uma abordagem cuidada de género nas respostas
sociais para as pessoas em situação de sem-abrigo e/ou pessoas
utilizadoras de substâncias ilícitas, considerando as necessidades e
vulnerabilidades particulares das mulheres nessas situações.

Nos cuidados de saúde, somos também as mais prejudicadas,
especialmente através de discriminações a pessoas LGBTQIAP+, da
violência obstétrica, da falta de acesso ao aborto seguro e noutros
cuidados de saúde.


Exigimos mais formação sobre inclusão de pessoas LGBTQIAP+
para profissionais de saúde que permitam também um acesso livre
e efetivo, com estratégias de saúde específicas, aos cuidados no
Serviço Nacional de Saúde para as pessoas trans e não-binárias.
Exigimos o acesso facilitado a consultas de saúde sexual e
reprodutiva.
Exigimos o acesso universal e efetivo à interrupção voluntária da
gravidez segura.

Exigimos o parto humanizado e o fim de todas as violências
obstétricas, a reabertura e reforço das maternidades, das urgências e
dos serviços de ginecologia/obstetrícia em todo o território nacional,
particularmente no Interior e noutras zonas de baixa densidade
populacional.

O movimento feminista deve ser capaz de incluir e ouvir todas as
trabalhadoras do sexo, que, por praticarem uma atividade ainda
invisibilizada e altamente estigmatizada, são tantas vezes discriminadas e silenciadas.
Exigimos que seja ouvida a voz destas mulheres sem julgamentos de
natureza moral e/ou preconceituosa.
Exigimos que tenham acesso a apoios sociais e retaguarda financeira
e de saúde.

A cultura machista, conservadora e racista também se reproduz nas
escolas e nas universidades, quando se silenciam as vozes das mulheres, especialmente as racializadas e imigrantes, naquilo que tem sido a propagação das histórias dos “vencedores”, com vieses coloniais.
Exigimos uma educação pública e gratuita, comprometida com as
agendas políticas da igualdade, da sustentabilidade e dos direitos
humanos.
Exigimos que a escola garanta a diversidade curricular, promovendo
espaços seguros e livres de agressões.
Exigimos a correção dos currículos preconceituosos,
particularmente dos vieses colonialistas.
Exigimos a democratização e livre acesso ao conhecimento
científico.

Os valores conservadores da nossa sociedade, que tentam dizer-
nos quem somos e onde devemos estar, continuam a perseguir e a

hostilizar todas as pessoas não-binárias, mulheres trans, bissexuais e
lésbicas, discriminando a diversidade de identidades de género e de
orientações sexuais. A violência de que somos alvo não pode ser o vosso entretenimento!

Exigimos o direito à autodeterminação dos corpos para todas as
pessoas.
Exigimos educação sexual inclusiva nas escolas, em que sejam
abordados temas como a identidade de género e a orientação sexual.
Exigimos mais representatividade da diversidade sexual e de género
nos media e nos diversos setores laborais.

Sabemos que as mulheres imigrantes e racializadas, como consequência do racismo enraizado na sociedade, são as mais expostas à pobreza, à desigualdade de oportunidades na saúde, educação e participação política, ao trabalho precário e à habitação sem condições e com rendas inadmissíveis!


Exigimos o fim das políticas racistas e colonizantes.
Exigimos o fim das discriminações que aumentam a desigualdade,
aplicando sanções para as empresas que permitem o assédio ou a
discriminação baseada na identidade étnico-racial.
Exigimos o levantamento dos dados étnico-raciais da população,
de acordo com o apelo continuado das comunidades imigrantes e
racializadas.

Mulheres com diversidade funcional e/ou neurodivergência sofrem
discriminação, presente em todos os contextos, aumentando as chances de sofrerem violência, incluindo a falta de acessibilidade que é uma das violências mais normalizadas e invisibilizadas na sociedade.
Exigimos o fim do capacitismo socialmente enraizado, presente
na exclusão social de pessoas com diversidade funcional e/ou
neurodivergência em todos os contextos sociais.
Exigimos a autodeterminação dos corpos com diversidade
funcional, começando a olhar-se para estes na perspetiva do Modelo
Biopsicossocial. Exigimos garantias de mais acessibilidade, tanto atitudinal, como física, metodológica, instrumental, comunicacional, etc. para estas pessoas.

Somos as mais afectadas pela crise climática, particularmente as mulheres do Sul Global, por estarem menos abrangidas por redes de protecção social e terem tradicionalmente trabalhos mais associados aos cuidados.
Ao mesmo tempo, somos as que lideramos o combate às alterações
climáticas.
Exigimos que as mulheres que lideram a luta contra as alterações
climáticas, em particular as mulheres indígenas, as companheiras
zapatistas do México e as mulheres curdas de países do Médio
Oriente sejam ouvidas na construção de uma solução política
internacional para este problema.
Exigimos que as pessoas refugiadas e deslocadas climáticas tenham
um estatuto internacional particular, como as que foram obrigadas a
sair dos seus países em consequência das cheias no Paquistão e da
submersão de áreas importantes de países como o Tuvalu e o Kiribati.
Exigimos a promoção de um planeamento urbano de distâncias
curtas, com o desenvolvimento massivo de transportes públicos
gratuitos.
Exigimos o desinvestimento na indústria bélica, usada para subjugar
e impor formas de opressão e exploração colonialistas, investindo,
em vez disso, numa transição justa nas energias e no mercado de
trabalho.
Por não nos esquecermos das populações das regiões afectadas
pela mineração: Exigimos o fim do Plano de Fomento Mineiro e a
interrupção imediata de toda a mineração em curso e projectada, na
terra e no mar, bem como acção clara e efectiva contra a mineração
em mar profundo.

Assim, unimos as nossas vozes em nome de todas as mulheres,
marchamos juntas pela construção de uma sociedade assente na justiça, na igualdade, na dignidade e na liberdade, ocupando as nossas ruas sem medo. Juntas, unidas e em luta por um mundo melhor!
Por isso, dizemos,

MULHERES EM UNIÃO
FAZEM A REVOLUÇÃO!

https://linktr.ee/8marco

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