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CSO A Insubmissa: Entrevista no espaço MUSAS

Entrevista com duas pessoas do CSO A Insubmissa, na Galiza.

A Insubmissa foi ocupada durante um ano e meio, e foi despejada violentamente em 2018. As pessoas enfrentaram um processo em Tribunal, do qual nos falam na entrevista, feita no evento solidário Tatoo Circus no Espaço Musas.

INDYMEDIA.PT

ENTREVISTA:


Estamos aqui no espaço Musas com duas das pessoas que participaram da ocupação do
centro social ocupado em Insubmissa e foram duas das pessoas que foram acusadas pelas
autoridades de ter participado na ocupação.


Olá, eu sou a D.


Eu sou o Brais

O que foi a Insubmissa e o que é um centro
social ocupado?


A Insubmissa foi um centro social ocupado da cidade de Corunha que estive em ativo desde


2016 até 2018, de caráter assembleário e autônomo, em que participou muita gente
de diversas procedências e ideologias da cidade de Corunha, que realizava atividades
sem ânimo de lucro para os movimentos sociais, era uma ferramenta dos movimentos sociais para a hora de financiar-se, como um espaço para realizar suas atividades e suas assembleias.


É uma cultura livre também, como suporte para outros movimentos e outros projetos sociais, tanto da cidade como de outras partes do estado.

O centro social sempre pretendia dotar a cidade de Corunha da capacidade de gerar cultura ou de gerar autogestão e permitir que a gente autogestionasse o leite, o esporte e também as atividades políticas e sociais.
Tínhamos um gimnásio onde se realizavam classes gratuitas de boxeio, capoeira, breakdance, yoga, swing.

Havia também uma tienda livre, onde a gente deixava a roupa que sobrava e se levava gratis o que precisava.

Também tínhamos uma mesa de ping pong para os caras da zona que vinham quando queriam a jogar nela.

Havia um projeto de rampas de skate, havia duas rampas de skate.

Era um grande half pipe indoor, que era algo que também era muito necessário para o coletivo de skaters em Xeralta, Galícia, porque ali chove muito, como aqui no norte de Portugal.

E se realizaram um sem fim de atividades, desde teatro, conciertos, assembleias, era o lugar que a gente utilizava para pintar pancartas ou para preparar manifestações.

E penso que disfrutou dele de maneira livre e gratuita, em muitos casos, e as coisas que não eram gratuitas eram para financiar os movimentos sociais, sempre sem ânimo de lucro, até os conciertos eram sem ânimo de lucro, os grupos não pagavam nem por desplaçamentos, mas os concertos só se permitiam pagar quando eram para causas sociais, e se não, o justo para poder financiar a insumisa e os desplaçamentos dos grupos.

Também havia um talher para reparação de bicicletas, para que a gente pudesse reparar de forma gratuita as suas bicicletas.

Havia também uma pequena huerta, para que a gente se iniciasse a permacultura, e essas eram as atividades.


E o centro social esteve ocupado durante dois anos, mais ou menos?

Mais ou menos, ano e meio, mais ou menos, do final de 2016 até o maio de 2018.

E o que é que se passou em 2018?
O que aconteceu?


O que aconteceu é que o centro social havia sido umas antigas naves militares, que pertenciam ao Ministério da Defesa, mas a gestão dessas naves estava em mãos do Ayuntamento, e as naves estavam desabitadas, sem nenhum tipo de utilidade, sem ser usadas, desde quase 20 anos, quando nós as ocupamos, e de fato, até hoje, elas estão desocupadas e fazem cinco anos que não se realizou nenhuma atividade ali.

E o que aconteceu é que o Ayuntamento de Corunha decidiu, por pressões do partido
de direita que estava no Ayuntamento antes que eles, desbloquearam uma subvenção de um milhão de euros para reabilitar este espaço, e então o Ayuntamento, supostamente de esquerda, decidiu desalojar-nos para não perder essa subvenção, em que, até hoje, não se faz nada nesse espaço.

Sem falar que o partido político que estava no poder nesse momento, no Conselho, era um
destes, como disse o Brais, um destes partidos de esquerda, do câmbio, tipo Podemos, que supostamente era a alternativa mais assembleia e horizontal, supostamente, segundo eles, porque como vimos, experimentamos nas nossas carnes, e isso não era assim.

De fato, três dos conselhais que participavam nesse Ayuntamento eram nossos companheiros em outra ocupação, a Casa das Atochas, que havia havido antes, entre 2008 e 2011.

Mas, bem, e uma das premissas com as quais chegou ao poder este partido, era que jamais se iria impedir o desenvolvimento dos movimentos sociais e que nunca iria interferir, digamos, na obra dos movimentos sociais.

No entanto, acabaram nos desalojando, e com o desalojo mais sangrento e repressivo que teve em Corunha desde a democracia, e com várias pessoas contusionadas, gente com a cabeça aberta, com 12 pontos de sutura, e, bem, muita gente gaseada, e, bem, uma pessoa, um companheiro nosso.

Depois, o desalojo passou nove dias em prisão, e, depois, sete pessoas fomos causadas de diversos delitos relacionados com este desalojo, até o juízo, que foi no mês passado.

Os encausados fomos sete, mas cinco dos encausados foram por os feitos acontecidos no dia do despejo, com acusações de atentado à autoridade, e outros dois fomos encausados por feitos acontecidos dois dias depois, quando foram destruídos os locais deste partido político.

Foi, mais que nada, a gente que viveu este despecho tão, sumamente violento.


Querem dizer como é que está agora o processo?

Os primeiros cargos, as primeiras petições fiscais para dois deles eram para um de 10 anos e para outro de 7 anos de prisão.

Para outras três pessoas, se enfrentavam cargos, ou seja, petições fiscais por três anos e meio, e nós dois, de dois anos de prisão.

E as responsabilidades civis eram de… em torno a 25 mil euros.

Ao final, depois de todos estes anos, que pensamos que era muito provável que alguém
entraria preso, durante o juízo nos ofereceram um acordo para que não chegassem a juízo,
a cambio de que ninguém entraria preso, de que todos nos declarássemos culpáveis, e pagámos uns 14 mil euros, em conceito de multas e responsabilidades civis. Isto aconteceu 3 de fevereiro deste
ano, hà mais ou menos um mês.
Apesar de muitos de nós acreditávamos que seria fácil ganhar o juízo, e queríamos ganhar o juízo, porque era uma forma de lutar por aquilo que acreditávamos e porque não
nos considerávamos responsáveis, e porque, além disso, está cheio de mentiras do Estado Policial, e as acusações são falsas, em muitos casos, era muito pouco provável que alguém entraria preso outra vez.

Era praticamente seguro que os dois companheiros que tinham apenas 10 anos e 7 anos de prisão iriam ter que cumprir, pelo menos, algo de prisão.

Por esta causa, no final, tivemos que assumir entre todos, declarar-nos culpáveis e assumir estes 14 mil euros para evitar a prisão destes dois companheiros.

Muito obrigada! e por isso estamos aqui no Espaço Musas

Sim, sim, também quero dizer que muito obrigado também ao grupo que organizou o Tattoo Circus aqui em Porto.


E para toda a gente que veio apoiar. Foi maravilhoso e vimos uma resposta incrível e estamos muito agradecidos com a gente de Porto. Muito obrigada.

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