Rede de Contra Informação

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Be Queer, do Crime! Comunicado do Bloco Autónomo da Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Lisboa

Somos um grupo de pessoas e coletivos autónomos que querem recuperar o sentido político e combativo da Marcha do Orgulho, unir forças e reivindicar o nosso espaço. Estamos cansades do clima vigente nas últimas marchas e manifestações, onde a nossa identidade é cada vez mais comercializada e a linguagem comodificadora e apaziguadora. Não queremos ser absorvides pelo capital, não queremos promessas vazias vindas de quem jura proteger-nos enquanto nos violenta. Não queremos defender instituições que nos oprimem.

É a nós que todos os dias nos matam ou nos tentam assimilar, sem nunca aceitar a nossa verdadeira essência e dissidência. No passado éramos patologias, hoje, consideram-nos modas e manias. A autoridade ocidental desde muito cedo impôs os seus padrões raciais, étnicos, religiosos, de género e sexualidade e isso é ainda hoje vigente numa cultura ocidental de violência naturalizada. Os movimentos de libertação, incluindo Stonewall, não foram o fim de uma luta, pois continuamos a vivenciar todos os dias essa violência e a dominação nos nossos corpos. Nascemos das pessoas mais marginalizadas, das trans, das migrantes, das pobres, das resistentes ou simplesmente dos meios que nos oprimiram a partir do momento em que nos mostrámos dissidentes.

É ainda nos espaços que pensamos serem seguros que somos excluídes pelas pretensas de um biologismo mainstream. Negam-nos o acesso a condições básicas como a saúde e à habitação, negam-nos o acesso ao emprego e aos espaços culturais. Somos empurrades para a marginalidade, para o encarceramento pela nossa não conformidade com o normal social, especialmente quando também somos migrantes, putas, pessoas racializadas e de classes mais baixas. São estas mesmas estruturas que nos dias do “Orgulho” saem à rua para virem vender a sua bondade mascarada e no dia a seguir nos voltam a espancar nas suas casas e estabelecimentos.

É por isto (e muito mais) que marchamos juntes contra este cis-tema patriarcal, mono-heteronormativo, capitalista e autoritário asfixiantes. Contra a tentativa de coptação da luta queer de rua pelos partidos políticos. Contra o assimilacionismo e a comercialização dos nossos corpos. Contra o corporativismo das marchas. Contra os patrocínios das mesmas organizações e empresas que nos violentam diariamente, que nos negam o acesso à saúde, que nos despejam, que nos despedem, que nos agridem. Marchamos contra o sistema colonial, que nos impôs o binário e contra a instituição católica, que sempre violentou pessoas queer. Contra a masculinidade hegemónica que persegue mulheres e tudo o que se aproxime da visão do que é o feminino.
Marchamos contra todas as prisões e fronteiras e contra qualquer forma de privação de liberdade, criadas pelos estados como centros de extermínio necessários para o afastamento da comunidade de todas as subjetividades consideradas não funcionais ao sistema capitalista e à hetero-normatividade.

Temos raiva, não temos orgulho e por isso viemos ocupar o espaço a que temos direito. Estamos aqui para criar o caos, enquanto a mono-cis-heteronormatividade capitalista e autoritária não for abolida. Apelamos a que sejam sempre desobedientes, e que saiam à rua não para desfilar, mas para contra-atacar toda a violência a que os nossos corpos e mentes são submetidas. Ninguém é livre enquanto não formos todes livres.

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