Rede de Contra Informação

Notícias de comunidades em resistência

“Sobre o evento Porto Pride” de 2001 a 2012

Nota da redação:

Em 2023, e depois de vários conflitos por parte do seu presidente com a Organização da Marcha do Orgulho do Porto, o Porto Pride decide fazer a sua festa nos mesmo dias que a Marcha do Orgulho do Porto. Uma decisão provocatória e propositada, com o intuito de deslocar as pessoas da Marcha do Orgulho.

Desde 2019, é organizado com o apoio da Câmara Municipal do Porto (através da Porto Lazer) pela Variações – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal , depois de esta de forma litigiosa se ter apropriado da marca PORTO PRIDE. (via Wikipedia)

Isto deve também explicar o porquê da câmara do Porto negar o apoio à Marcha do Orgulho: já têm o seu próprio evento paralelo, pinkwashed e des-politizado em frente ao Rivoli.

ver o site: portugalgay.pt

COMUNICADO DE IMPRENSA

Porto, 6 de julho de 2023

Este é um comunicado diferente, na sua disposição, mas não muito diferente dos demais no seu propósito, que é esclarecer. Esclarecer que o evento que hoje usa o nome Porto Pride não está de forma alguma relacionado com o evento que usou o nome Porto Pride de 2001 a 2012.

Corria o ano de 2001, e havia no país uma única Marcha do Orgulho LGBT+, a de Lisboa, da qual eu João Paulo, enquanto representante do portal de internet PortugalGay.pt, fazia parte da coorganização da mesma. No final de uma das reuniões de preparação, um amigo e à época presidente da ILGA Portugal, de seu nome José Manuel Fernandes, lançou um desafio enquanto se despedia de mim e do marido, disse: – E no Porto, para quando um arraial gay?

No momento não levamos a coisa muito a sério, estávamos a falar de um país e de um Porto, bem diferente daquele que vivemos hoje, mas 320km de volta ao Porto, ali para os lados de Coimbra, a ideia começava a ter forma, e chegados ao Porto levamos a ideia, e a vontade de realizar uma festa Pride, ao nosso amigo Miguel Rodrigues Pereira, então proprietário de um dos bares LGBT mais falados no momento, o Boys’R’Us.

Juntos reunimos os restantes bares LGBT da cidade (Q-Bar; Him; Moinho de Vento e Café na Praça), e demos o nome de PORTO PRIDE, aquele que foi o primeiro evento Pride celebrado publicamente na cidade, e no dia 7 de julho de 2001 nascia para o mundo o evento que veio mudar mentalidades na cidade Invicta.

O evento durou até 2012, num formato que achamos fazia sentido dentro de portas, mas com uma entrada simbólica e que permitiu juntar uma diversidade incrível de participantes de todos os estratos sociais e com as mais variadas formas de estar na vida respeitando a segurança de cada pessoa. Um formato que teve o seu peso sociopolítico quer na comunidade, com a participação de múltiplas associações e grupos que puderam no evento promover as suas ideias de forma perfeitamente gratuita, passando pelas pessoas que animam a noite LGBT que tinham assim uma oportunidade de atuar perante uma plateia muito maior do que o habitual e com meios técnicos diferenciados próprios de uma sala de espetáculos, e um evento que também teve visibilidade além de portas distribuindo pouco mais de 30 mil euros em donativos, primeiro junto da Liga de Amigos do Hospital Joaquim Urbano, entretanto extinto, e depois à Associação SOL.

O evento terminou em 2012 por uma confluência de razões. Por um lado, alguma saturação da própria organização e dos múltiplos obstáculos que tínhamos de ultrapassar ano após ano por sermos uma organização independente, por outro lado a impossibilidade prática de fazer o evento crescer na cidade, e por outro também alguma apatia do movimento LGBT na altura relativamente ao evento, e sem essa energia também não fazia sentido um evento que sempre se quis comunitário.

Entretanto a Marcha do Orgulho na cidade do Porto era uma realidade estabelecida e a importância do evento Porto Pride deu dor de cotovelo a muita gente, incluindo Diogo Vieira da Silva que enquanto vice-presidente de uma associação da cidade (que desapareceu pouco depois), tentou desde 2010 de todas as formas não só minar a excelente relação e coordenação entre o Porto Pride e a Marcha do Orgulho LGBT no Porto, como fez questão de promover ele próprio eventos alternativos ao Porto Pride, que pouco sucesso tiveram, como defendeu acerrimamente que o evento não devia ser no mesmo dia da marcha e que era importantíssimo tornar claro que a marcha é uma coisa e o evento é outra. Passados alguns anos parece ter esquecido tudo o que defendeu anteriormente.

Quanto decidimos fazer a última edição do Porto Pride em 2012, foi também uma oportunidade para fazer balanços e repensar o evento. Foi um ponto de pausa em algo que fizemos de coração durante anos e sabemos que era acarinhado por muitos na cidade e não só.

Mas cinco anos depois, devido a uma questão técnica legal, fomos surpreendidos com o mesmo Diogo Vieira da Silva a conseguir garantir para si a marca Porto Pride, contra a vontade da organização original do evento e, sejamos bem claros, sem nenhuma coordenação com a organização original. Não houve uma passagem de testemunho, ou de alguma forma alguém decidiu tomar conta do evento… o que aconteceu foi simplesmente uma tomada hostil da marca “Porto Pride” por Diogo Vieira da Silva.

O Porto Pride que se realizou entre 2001 e 2012, nunca teve apoios camarários, mas orgulha-se de nas últimas edições obter mensagens políticas dos presidentes da CMP, um princípio de abertura de portas que até então pareciam fechadas a 7 chaves. O Porto Pride que terminou em 2012 orgulha-se de ter trazido à cidade DJs de clubes LGBT internacionais, intérpretes de êxitos mundiais, e de ter dado um palco privilegiado à animação LGBT da Invicta. O Porto Pride que terminou em 2012 orgulha-se de ter nas suas 12 edições reunido milhares de convivas vindos um pouco de todo o mundo, num Porto ainda muito longe da atual realidade turística cada vez mais focada no ganho monetário rápido. O Porto Pride que terminou em 2012 foi um catalisador da Marcha do Orgulho LGBT do Porto, sempre a respeitou e sempre trabalhou no sentido de uma maior visibilidade e participação na marcha. O Porto Pride que terminou em 2012 nunca se esqueceu das raízes reivindicativas que marcaram os eventos Pride do século XX.

E porque divulgamos agora publicamente este historial? Porque ao ler várias notícias que saíram sobre o evento que atualmente usa o nome Porto Pride poderia ficar-se com a ideia de que estaria de alguma forma relacionado com o evento original. Nada mais longe da verdade. Como explicamos de nenhuma forma a organização anterior teve algum dixit no evento atual, e muito menos a organização atual teve alguma contribuição positiva no evento anterior, antes pelo contrário!

E, concluindo, achamos absolutamente abusivo ver na imprensa a inclusão no histórico do evento que hoje se chama Porto Pride, as edições que organizamos entre 2001 e 2012 que nada têm em comum além da marca registada do nome do evento. E para repor a verdade dos factos pedimos a atenção dos jornalistas ao divulgarem notícias sobre o evento.

Grato pela atenção,

João Pacheco Paulo

Editor PortugalGay.pt

Coorganizador Porto Pride 2001 – 2012

Medalha de Mérito da Cidade do Porto