Companheiras,
Vimos pedir o vosso apoio e ampla divulgação nas vossas redes de coletivos e de pessoas afins para a Feminist No Borders Summer School que se vai realizar em Lisboa (e também em Atenas, Berlim, Nova Delhi, Novi Sad e Palermo), pois iremos receber várias companheiras durante o evento entre 14 e 18 de junho. Como sabemos, Lisboa é uma cidade afectada pela especulação, gentrificação e preços incomportáveis em termos de alojamento a todos os níveis. Assim sendo, desde o coletivo da Feminist No Borders Summer School em Lisboa – um evento feminista interseccional, anti-carcelário, anti-racista, anti-fronteiras, anti-extrativista e que integra as várias vertentes da luta anti-capitalista – gostaríamos de pedir o vosso apoio para locais e/ou pessoas individuais que possam partilhar alojamento e acolher de forma solidária algumas das companheiras que se juntam a nós de diferentes partes do mundo.
Mais info sobre a Feminist No Borders Summer School: https://feministresearch.org/summer-school/
Open call (fechada) e info em pt AQUI (https://drive.google.com/file/d/1dqQYSUqLHEqeNMlOjBfK6pnNXEwAA-oE/view?usp=share_link)
Desde já agradecemos o vosso apoio e partilha e estamos ao dispor para info, ou envio de propostas/respostas – lisbonnode@feministresearch.org
sms/telegram/signal – 916480692 ou, preenchendo rapidamente a informação neste formulário. (https://forms.gle/pm78RrJWNDLSRSwJ6)
Alexa, Antonio, Armaghan, Denise, Ema, Erica, Francesca, Joana, Laura, Margarida, Magdala, Roxana, Sara, Sofia e Vânia
OPEN CALL FOR PARTICIPANTS
14-18 de junho de 2023
Abolitionist Care
Núcleos: Atenas, Berlim, Lisboa, New Delhi, Novi Sad, Palermo
As inscrições terminam a 24 março de 2023
A luta feminista pela abolição de fronteiras deve conceptualizar relações radicais de cuidados independentes do Estado. Este ano, na Feminist No Borders Summer School, concentramo-nos nos cuidados abolicionistas. Propomos este conceito como ponto de partida para a reflexão sobre práticas feministas de resistência no contexto das atuais lutas anti-carcerárias e pela abolição de fronteiras. O cuidado abolicionista é uma forma de cuidado coletivo que procura prefigurar e adotar um mundo sem fronteiras, prisões e lógicas carcerárias, constituindo uma resposta política à privatização e privação de cuidados, saúde, alimentação e habitação, com base nas heranças
transfeminista e queer da Greve Feminista.
A Feminist No Borders Summer School proporciona um espaço de encontro, aprendizagem mútua e de inspiração para investigadoras, ativistas, artistas e membras de organizações comunitárias para
partilharem experiências, estratégias e lutas entre e contra as fronteiras. Pretendemos desmantelar a hegemonia da academia como espaço privilegiado de produção e distribuição de conhecimento,
pelo que a Escola de Verão é um espaço antirracista e abolicionista que procura desafiar a divisão entre conhecimento e práctica e intervir na visão dominante na qual as fronteiras são reproduzidas na academia, nos media e na esfera humanitária. Para tal, utilizaremos formas alternativas de aprendizagem, escuta e comunicação mútua, criando comunidades políticas através das quais pretendemos desenvolver as nossas lutas. Ao longo dos últimos anos, temos vindo a discutir a violência das fronteiras, das prisões e dos modelos de opressão e controlo patriarcais. Ao fazê-lo, partilhamos ferramentas e práticas para a desfronteirização, como o desmantelamento de lógicas carcerárias e a substituição das práticas de resposta da indústria humanitária por solidariedade feminista e antirracista. Este ano, sentimos a necessidade de reforçar a conexão destas práticas com reflexões sobre formas de cuidado coletivas e abolicionistas, isto é, formas de cuidado organizadas fora e contra quadros de proteção, controle carcerário, resiliência da privatização e responsabilização individual impostas pelo sistema capitalista racial e neoliberal.
O paradigma liberal sobre o autocuidado tornou-se numa norma de responsabilização individual num contexto de abandono organizado, através da retirada de recursos e cuidados pelo estado. Assim, coloca a responsabilidade de lidar e tratar danos causados pelos sistemas de opressão sobre as pessoas vitimizadas e castigadas por estes sistemas, pelo facto de “falharem em lidar” com estas condições. O imperativo do autocuidado retrata o cuidado como algo que pode ser comprado, reproduzindo a lógica do consumismo capitalista, sendo que, no sistema capitalista racial, o autocuidado é apenas acessível a pessoas privilegiadas. A privatização do cuidado é dependente da família nuclear heteronormativa e da exploração e precarização das pessoas que providenciam o cuidado, que, geralmente, são mulheres migrantes racializadas. Adotar uma perspetiva abolicionista significa desvincular o conceito de cuidado de abordagens punitivistas, coercivas e do complexo humanitário, já que todas elas promulgam noções carcerárias e de controle. De facto, práticas diárias de cuidado, ajuda mútua, solidariedade e amor radical, fora da lógica da indústria humanitária (como por exemplo: habitações auto-organizadas, equipas
comunitárias de apoio, cozinhas coletivas, clínicas sociais, etc) são frequentemente alvo de criminalização e repressão estatal. O nexo cuidado-controlo reproduz a violência das fronteiras: por exemplo, no discurso anti-tráfico, pessoas identificadas como mulheres são frequentemente representadas como vulneráveis e necessitando de “cuidado humanitário”. Contudo, sob o regime de fronteiras, a vulnerabilidade é instrumentalizada como uma arma de desempoderamento sistemático, subjugação a campos e degradação em instituições carcerárias (como campos e centros de detenção).
Partindo das perspetivas das feministas negras sobre a política de cuidado, questionamos:
‐ Como podemos relacionar-nos com o cuidado abolicionista nas nossas lutas coletivas contra fronteiras, prisões e instituições carcerárias?
‐ O que significa o cuidado abolicionista para cada um@ de nós?
‐ Quem se importa? Por quem somos ensinados a cuidar e quem é excluído do cuidado?
‐ Como a posicionalidade afeta a nossa habilidade/capacidade/vontade de cuidar?
‐ O que precisamos de “abolir” para realmente cuidar? Ou, por outro lado, como é que as práticas coletivas e radicais de cuidado podem constituir um caminho para a abolição?
‐ Como cuidamos uns dos outros sem recorrer mais à polícia, à legislação ou às instituições carcerárias para lidar com danos, crises ou violência?
Núcleos:
Este ano, a Feminist No Borders Summer School decorrerá presencialmente em seis núcleos: Atenas, Berlim, Lisboa, Nova Deli, Novi Sad e Palermo. Uma pluralidade de núcleos em diferentes localizações permitirá que diferentes realidades emerjam e se formem conexões entre elas. Cada núcleo terá entre 20 a 30 participantes, em adição à equipa organizadora de cada núcleo, de acordo com a capacidade.