Os comunicados da Rede 8M, bem como do Movimento Guimarães LGBTQIA+ e a resposta da Humanamente, estão disponíveis no fundo deste artigo.
Atualização: A Rede 8 de Março de Guimarães manifestou-se hoje, 16 de Julho, públicamente. A rede 8M “esclarece que é falso que tenhamos recebido qualquer convite para usar da palavra na Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães. Dessa forma, todo o grupo 8M Guimarães, que neste momento é constituído por quarenta e uma pessoas, repudia publicamente que o seu nome seja usado formalmente num comunicado para faltar à verdade e para tecer argumentos enganadores.” A Rede 8M posiciona-se assim “contra a instrumentalização da Marcha LGBTQIAP+ para fins pessoais e partidários”.
Comunicado do Movimento Guimarães LGBTQIA+ reclama “a extinção da comissão organizadora” da Marcha de Guimarães. Em resposta, associação Humanamente, promotora da Marcha, questiona veracidade das acusações. Agora, a Rede 8M vem posicionar-se a favor do Movimento LGBTQIA+ contra a Humanamente, repudiando a “falta de verdade” daquela que formalmente, foi a organizadora da Marcha LGBTQIA+ de Guimarães. Ativistas também criticam a associação.
Ativistas independentes criticam a organização da Marcha, e associação Humanamente por falta de cuidado, ataques à comunidade e silenciamento das vozes queer por parte do partido Bloco de Esquerda de Guimarães.
O Movimento Guimarães LGBTQIA+ lançou um comunicado em sequência da Marcha LGBTQIA+ de Guimarães, a 1 de Julho de 2023. No comunicado, denunciam a “comissão organizadora da marcha” como sendo “não inclusiva, democrática, nem transparente”, e reclamando a sua “extinção” e a devolução da marcha às pessoas da cidade.
O Movimento diz que a comissão está a fazer um aproveitamento político partidário da marcha e que “a ‘promotora’ e a comissão organizadora, desconhecem a realidade local e não são realmente representativas das pessoas LGBTQIA+ de Guimarães”.
Em causa, os acontecimentos de dia 1. A marcha começou às 15h na plataforma das artes, tendo sido planeada com um percurso mais longo do que habitual nas manifestações na cidade. O Movimento Guimarães LGBTQIA+ diz que as ruas estavam “áridas e desertas” e que diverses ativistas se sentiram mal, tendo a marcha de ser interrompida por algumas pessoas para as auxiliar.
Além da escolha da hora e percurso a data da organização da marcha foi também posta em causa por váries ativistas, que dizem ter avisado ou reclamado antecipadamente uma alternativa a esta data e hora, mas sem obter resposta da parte da comissão.
O Jornal Mais Guimarães escreveu também sobre a situação.
A promotora da marcha é a “Humanamente – Movimento Pela Defesa dos Direitos Humanos” e o seu coordenador atual é Diogo Barros, militante do Bloco de Esquerda. A Humanamente diz ser promotora das Marchas LGBTQIA+ de Guimarães, Famalicão, Vizela, Santo Tirso e Esposente.
A 24 de Março de 2023, Eduardo Costa, à época Vice Presidente da Assembleia Geral da Humanamente, demitiu-se dos seus cargos, denunciando “a maneira abusiva com que as comissões organizadoras escolheram poder afastar qualquer pessoa que não seja de consenso das mesmas a ajudarem na organização das marchas”.
Em 2022 a marcha em Guimarães teve comparávelmente uma maior adesão do que a marcha de 2023. Isto pode dever-se àquilo que diverses ativistas têm denunciado, como as expulsões ou as “tomadas de decisões não-democráticas”.
Este ano, as marchas Queer+ por todo o território têm sido postas em causa de forma grave: em Évora por homens ligados a grupos fascistas que destruíram uma exposição e fizeram um refém; em Braga, pela PSP que se recusou a reconhecer a Manifestação, e de forma Ilegal, ameaçou es ativistas com responsabilidades criminais; no Porto pela Câmara Municipal que se recusou a aceitar a realização do Arraial no fim da marcha, recusando também dar apoio financeiro à organização, e negando às 15.000 pessoas que se esperam no Porto dia 8 de Julho, o acesso aos espaços públicos do centro da cidade, propondo que se realizasse a 45 minutos do centro, num parque obscuro e desconhecido.
A Comissão Organizadora da Marcha de Guimarães diz que irá reunir em breve, não efetuando comentários para já, no entanto dizendo que “a verdade virá ao de cima”.
Atualização:
Depois do comunicado público lançado pelo “Movimento Guimarães LGBTQIA+”, visando a “Humanamente” e a comissão da marcha de Guimarães, estas exercem agora o seu direito de resposta.
De acordo com algumas das ativistas com quem pudemos falar a marcha de Guimarães foi lida por diversas pessoas como uma situação normal, e o comunicado de denúcia contra a Humanamente, exagerado.
No entanto, muitos des ativistas que encontramos e que conhecem a realidade local disseram que se reviam nas críticas feitas à Humanamente. Além disso, referem que há uma profunda divisão entre estes dois grupos, que vão liderando inciativas queer na cidade. Outra questão apontada pelas ativistas é que o Bloco de Esquerda tomou a liderança da marcha queer de assalto, e que tem por hábito atacar todas as ativistas que não alinham com as suas ideias. A Humanamente é controlada por este núcleo partidário local, e portanto é vista pela comunidade como uma seccção deste grupo partidário.
A Humanamente diz no seu currículo ter avançado com a criação de marchas LGBT+ em cidades do norte. Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães, Famalicão, Vizela, Santo Tirso e Póvoa do Varzim são as marchas nas quais a Humanamente está envolvida como promotora.
Em particular, sobre situação duas pessoas que se sentiram mal, parece haver uma confusão. Ambas terão sido auxiliadas de facto por pessoas ligadas à Guimarães LGBTQIA+ e não pela comissão da marcha. Uma das pessoas que teve um problema de saúde foi aparentemente auxiliada por ativistas que não faziam parte da comissão da marcha, tendo no entanto afirmado que sim, num comentário público no instagram.
Sobre as diversas acusações de violência física por parte de Luís Lisboa, do Movimento Guimarães LGBTQIA+, não pudemos apurar os factos.
Outres ativistas referem ainda que farão os seus posicionamentos públicos em breve.
No entanto, o problema maior em Guimarães parece ser a profunda divisão entre ativistas independentes nos movimentos sociais e ativistas comprometidos com pautas político-partidárias, que frequentemente são acusados de instrumentalização das lutas na região.
Esperamos que o movimento Queer de Guimarães e do resto das cidades à sua volta saiam fortalecides pela abertura do diálogo entre as diversas coletividades e comunidades agora em cisão. Além disso, é importante entender que as comunidades não são os seus líderes nem porta-vozes, mas sim forças vivas e coletivas que se podem e devem auto-gerir, pelo diálogo aberto, horizontal, anti-autoritário e inclusivx.
Comunicado do Movimento Guimarães LGBTQIA+
O Movimento Guimarães LGBTQIA+ vem por este meio lamentar que a Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães não tenha sido um momento seguro, de celebração e união, na reivindicação por uma cidade mais justa e igualitária para todas as pessoas.
Efetivamente, não podemos ficar em silêncio, sob pena de estarmos a compactuar com decisões que voltem a pôr em causa as pessoas, o seu bem-estar, assim como a luta LGBTQIA+. Por este motivo, é nossa obrigação expor publicamente que a entidade promotora da Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães e a sua comissão “organizadora”, não são entidades inclusivas, democráticas nem transparentes.
Ou seja, esta organização apropriou-se da Marcha LGBTQIA+ de Guimarães e exclui grande parte dos movimentos e das pessoas LGBTQIA+ de Guimarães. Desta forma, a “promotora” e a comissão organizadora, desconhecem a realidade local e não são realmente representativas das pessoas LGBTQIA+ de Guimarães, pois privilegiam pessoas LGBTQIA+, maioritariamente, de fora da cidade, assim como, alguns partidos e agentes políticos hétero-cis, que não se importam de instrumentalizar a luta LGBTQIA+ para fins pessoais e partidários.
Na verdade, só assim se entende as negligentes decisões organizativas, que tiveram consequências diretas na saúde e no bem-estar das pessoas manifestantes. Veja-se, a escolha da hora de início não refletiu as previsões climatéricas e o percurso escolhido. Na verdade, com o calor abrasador que se fazia sentir àquela hora, fazer um percurso extenso, praticamente sem ponta de sombra, só podia tornar-se um perigo para a saúde das pessoas vulneráveis. Por estas decisões negligentes, duas pessoas sentiram-se mal e não conseguiram terminar o percurso. Aliás, foi, desde logo, uma falta de respeito terem convidado uma conhecida artista Drag Queen e tê-la obrigado a marchar de saltos altos, por extensas ruas de paralelo, áridas, e, desertas.
Notem, escolhas erradas fizeram pessoas sentirem-se mal, e, da parte da “organização” faltou humanismo para com estas pessoas. No entanto, nós, Guimarães LGBTQIA+, interrompemos a marcha e estivemos ao lado delas, auxiliando da forma que podíamos.De mais a mais, a teimosia em escolher, novamente, a data para a Marcha no dia em que acontece o Sunset Praça, revela pouca astúcia pois este evento municipal concentra a atenção de toda a cidade e ocupa os seus bares e palcos. Pior ainda, lamenta-se que, mais uma vez, a “organização” tenha colocado um partido de extrema-esquerda no meio do desfile, partindo a Marcha e quebrando o protocolo dos movimentos cívicos, as pessoas em primeiro lugar.
Uma palavra final para as pessoas ativistas que ainda se mantêm nesta “promotora”, sabemos que vocês não têm culpa, vocês estão a ser alvo de manipulação. A vossa juventude e inexperiência está a ser usada para fins de agenda pessoal e partidária. Contudo, a luta não é pessoal, a luta é política. Por isso, a verdade é como o azeite, e, só o amor e a inclusão incondicional são a resposta. Assim, não esqueçam, connosco podem sempre contar, e, junto a nós, terão sempre o vosso lugar de fala garantido, assim como respeito e apreço pela vossa existência.
Concluindo, definitivamente, esta Marcha não serviu os seus propósitos, unir todas as pessoas LGBTQIA+ e reivindicar uma cidade melhor e mais segura, construindo e assegurando a proteção e o lugar de fala de todas as pessoas. Por isso, não podemos continuar a compactuar com a apropriação em curso, nem com a instrumentalização político-partidária que estão a fazer à nossa celebração e reclamamos a extinção da comissão organizadora e a devolução da Marcha a quem de direito, as pessoas LGBTQIA+ de Guimarães.
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Comunicado da Humanamente
e da Comissão Organizadora da Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães.
Após, três dias seguidos de reuniões em conjunto, onde todes aqueles que pertencem a ambas as entidades foram convidades a estarem presentes. Publicamos a nossa versão, dos factos ocorridos, numa tentativa de repor a verdade.
Além do comunicado que agora publicamos em resposta aos ataques falaciosos de Guimarães LGBTQIA+, queremos também responder ao comunicado publicado, a cerca de duas horas, por parte do Núcleo Antifascista de Guimarães, que não iremos nos alongar muito, visto que o seu fundador e responsável seja o mesmo que do Movimento Guimarães LGBTQIA+, entre outros movimentos/páginas que por aí andam.
O Núcleo Antifascista mente e distorce os factos ocorridos, seja em 2021, ou em 2022. Ninguém roubou a ideia de ninguém, até porque, como explica o fundador do Núcleo Antifascista de Guimarães e do Guimarães LGBTQIA+ que se o fundador do GAPQ/Humanamente lhe tenha roubado a ideia, tenha o mesmo convidado o GAPQ/Humanamente a reunir com ele e o partido pelo qual o mesmo de candidatou, durante a campanha das eleições autárquicas. Quando alguém rouba a “nossa ideia” não lhe vamos convidar passado uns meses a reunir e dar-lhe visibilidade em Guimarães e na Comunicação Social.
Já sobre o facto de a Comissão Organizadora da Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães, não realizar reuniões abertas, a mesma deve-se ao facto da Organização temer pela falta de segurança dos seus participantes, após em 2022, na última reunião aberta da Organização da Marcha, o fundador e responsável do Guimarães LGBTQIA+, sendo o mesmo do Núcleo Antifascista de Guimarães, ter tentado agredir fisicamente o moderador da reunião, bem como insultado vários participantes da mesma reunião.
Por fim, queremos deixar claro que a Comissão Organizadora da Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães está aberta a todes, porém, quem queira se inscrever deve o fazer de forma antecipada, e não após o trabalho estar feito.restante comunicado no instagram.
Humanamente Associação
Comunicado da Rede 8 de Março
A 8M Guimarães repudia que o seu nome tenha sido usado para faltar à verdade
Assim, depois de tomarmos conhecimento do comunicado emitido pela Humanamente, no qual é referido o nosso nome, a 8M Guimarães esclarece que é falso que tenhamos recebido qualquer convite para usar da palavra na Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães.
Dessa forma, todo o grupo 8M Guimarães, que neste momento é constituído por quarenta e uma pessoas, repudia publicamente que o seu nome seja usado formalmente num comunicado para faltar à verdade e para tecer argumentos enganadores.
Consequentemente, apesar da 8M Guimarães respeitar todas as liberdades individuais das suas ativistas, assim como das ativistas que nos auxiliam, previamente, de forma unânime, decidimos que não iriamos participar no microfone aberto, em protesto pela falta de transparência, democracia e inclusão da organização e coordenação da Marcha LGBTQIAP+ de Guimarães.
Mais ainda, por uma questão de conhecimento do que está a acontecer no ativismo vimaranense, acreditamos ser importante partilhar, de forma factual, que, em fevereiro de 2022, convidamos o GAPQ, Grupo de Apoio a Pessoas Queer, que agora se dá pelo nome de Humanamente, para co-organizar connosco a Marcha do Dia Internacional da Mulher, também em Guimarães. No entanto, este grupo negou-nos a sua ajuda. (Ver Imagem A)
Aliás, no próprio dia da Marcha do Dia Internacional da Mulher, uma SMS do Presidente do GAPQ reforçou a posição do grupo. (Ver Imagem B)
Depois disso, da parte da Humanamente, não voltamos a receber qualquer contacto, nem muito menos qualquer convite para participar da construção da Marcha LGBTQIAP+ da nossa cidade, em 2022.
De seguida, este ano de 2023, fizemos vários apelos públicos, fomos completamente transparentes, democráticos e inclusivos. Todavia, a Humanamente não se fez representar em nenhuma das três reuniões abertas que realizamos, para a construção da Greve Internacional Feminista. Concretamente, duas reuniões abertas presenciais, no Círculo Arte e Recreio, e, uma Reunião Aberta online. Note-se, para além destas, houve ainda outras reuniões abertas nacionais, online.
Portanto, a 8M Guimarães não aceita o abraço da serpente, nem aceita que o seu nome seja usado como argumento democrático por grupos que não são horizontais, nem transparentes, nem inclusivos. Assim, a 8M Guimarães repudia que o seu nome tenha sido usado pela Humanamente e distancia-se da mesma.
Para concluir, lamentamos que a Marcha LGBTQIAP+ da cidade esteja a ser instrumentalizada para inviabilizar e excluir pessoas LGBTQIA+ de Guimarães. Mais ainda, consideramos deplorável que as redes sociais da Marcha LGBTQIAP+ estejam a ser usadas para expôr e difamar pessoas LGBTQIA+ de Guimarães. Em consequência, a 8M Guimarães não pode compactuar com o desrespeito pela dignidade e pelos mais básicos direitos humanos e cívicos das pessoas de Guimarães.
Por conseguinte, a 8M Guimarães faz saber que é uma das entidades signatárias do comunicado do Movimento Guimarães LGBTQIA+, posicionando-se contra a instrumentalização da Marcha LGBTQIAP+ para fins pessoais e partidários.
Para concluir, aconselhamos a Humanamente a ler o nosso Relatório de Atividade para a Marcha do Dia Internacional da Mulher para que possa compreender o normal funcionamento dos movimentos sociais, assim como a verdadeira essência da luta pelos direitos humanos de todas as pessoas.
8M Guimarães
Imagens: 8M Guimarães