O Centro Comercial STOP, situado no coração da cidade do Porto, é um dos mais emblemáticos espaços culturais do país. Há mais de vinte e cinco anos que funciona como tal, altura em que as lojas foram progressivamente transformadas em salas de ensaio e estúdios, ainda que se tenham mantido alguns espaços comerciais.
Desde então, passaram pelo STOP centenas – senão milhares – de músicos, professores e produtores de música, técnicos de som, produtores de eventos e muitas outras profissões relacionadas direta ou indiretamente com a indústria musical/cultural. Muitas destas pessoas acabaram por se fixar e fazer das salas os seus locais de trabalho, seja na vertente de ensaios, de gravações ou de ensino. O STOP foi também espaço de residência de projectos artísticos sociais e comunitários, bem como de intercâmbios europeus na área da cultura, e alberga sedes de várias associações culturais.
Na passada terça-feira, dia 18 de Julho, uma ação policial acionada pela Câmara Municipal do Porto, sem qualquer aviso prévio, encerrou 105 de um total de 126 lojas. Neste momento, cerca de 500 pessoas estão sem sala para ensaiar, guardar material ou dar aulas. Há ainda o caso dos lojistas, cuja continuidade da sua atividade comercial foi impedida. Ainda sobre o problema que recai sobre a comunidade artística, é de salientar que a presente época de verão é considerada a época alta das suas atividades culturais, com particular ênfase para os músicos. Também os estúdios de gravação se encontram impedidos de prosseguir com o trabalho.
As principais razões apontadas pela CMP para o fecho do STOP debruçam-se sobre os seguintes argumentos:
1. Existirem falhas na vigilância e condições de segurança do edifício;
2. Um número significativo de lojas não estarem devidamente licenciadas;
3. O ruído proveniente das salas ser incomodativo para os habitantes próximos ao local.
Alguns desses argumentos são facilmente refutáveis: o espaço tem vigilância durante 24 horas por dia. No que toca ao alegado ruído, os próprios músicos cujas lojas se encontram na fachada do edifício tomaram ação no sentido de insonorizar as salas, respeitando rigorosamente os horários permitidos pela lei do ruído. No que às condições de segurança concerne, foram submetidos, no decorrer dos anos, vários pedidos à CMP, com vista à requalificação do espaço – a qual nunca chegou a ser concretizada.
A missão dos músicos e lojistas do STOP é continuar a manter este espaço – emblemático e orgânico – aberto a todas as pessoas que dele queiram usufruir, criando bases sustentáveis para a manutenção de um ambiente propício ao desenvolvimento das atividades culturais, sem negar uma intervenção no espaço que garanta as condições de segurança mínimas do edifício.
Ao longo de muitos anos, o STOP tem sido reconhecido, tanto em Portugal como a nível internacional, como um dos epicentros mais importantes da cultura portuguesa.
Artistas de norte a sul do país já frequentaram e/ou usufruem atualmente do espaço. Apenas para enumerar alguns: Ornatos Violeta, Throes + The Shine, Kilimanjaro, Best Youth, Manel Cruz, 10000 Russos, Capicua, Retimbrar, Glockenwise, Conjunto Corona, Fugly, Batucada Radical, Solar Corona, Repórter Estrábico, são apenas alguns dos tantos tantos nomes que fizeram do STOP casa.
Artigo The Guardian
“Um espaço único na Europa: um centro comercial antigo em que loja sim, loja sim há um estúdio ou sala de ensaio. A autarquia responde com polícia. A cidade de Sérgio Godinho, de Zé Mário Branco, de Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, dos GNR, dos Clã, dos OrnatosVioleta e tantos outros músicos incríveis merecia melhor!”
Capicua, rapper Portuense. Artigo do Jornal de Notícias
“É que não há muitos exemplos na Europa de um espaço como aquele. É um caso único porque não conheço nenhum exemplo em que tudo é legal, em que as pessoas que ocupam o espaço não são ocupas, pagam rendas, aparentemente do lado deles está tudo legal. Politicamente parece-me uma aberração o que a Câmara Municipal do Porto está a fazer.”
Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta. Artigo da TSF
Após a supracitada ação que ocorreu a 18 de Julho, a CMP anunciou a possibilidade da utilização do espaço da Escola Básica Pires de Lima e do Silo-Auto como alternativas. À data de hoje, ambos os espaços carecem de condições para albergar toda a comunidade do STOP, pelo que não consideramos que possam ser solução. Lojistas e músicos ficaram privados do seu local de trabalho, tornando-se imperativo o regresso ao STOP no imediato, enquanto se estudam outras soluções de possível transição para outro local, sendo importante recordar que as mesmas devem considerar o alojamento de todos, sem exceção.
Requalificar o STOP é não só a melhor opção, como também a vontade de todos aqueles que o frequentam e desejam manter a sua essência intacta. Por estas tantas razões que apontamos, apelamos a todos que apoiem a causa com a urgência a que o problema obriga. Nesse sentido, o movimento de músicos do STOP convocou uma manifestação que irá decorrer na próxima segunda-feira, às 15h00, em frente à Câmara Municipal do Porto, na Avenida dos Aliados. A partir das 19h30, segue-se uma marcha cujo percurso passará pela Rua Passos Manuel até ao Centro Comercial STOP. Lutamos para que a cultura se mantenha viva na cidade do Porto.
Atentamente,
Os músicos, artistas plásticos (e de outras áreas culturais) e lojistas do Centro Comercial
STOP